Não é hora de correr muito risco na bolsa, segundo ex-BC
fevereiro 15, 2011 at 12:41 pm emarket Deixe um comentário
Luiz Fernando Figueiredo, da Mauá Sekular Investimentos, diz que a inflação ainda demora a arrefecer e que podem surgir melhores oportunidades mais para frente
A percepção de que países emergentes como o Brasil e a China terão de tomar medidas duras para combater a inflação desatou na Bovespa um processo de correção dos preços das ações de empresas ligadas ao mercado interno. Para os analistas, a inflação ainda está sob controle, mas, da mesma forma que atingiu 6% nos últimos 12 meses, pode saltar rapidamente para 10% e depois dobrar para 20% se o governo não tomar as medidas adequadas para contê-la. Foi isso que aconteceu, por exemplo, com a Argentina. Por outro lado, o crescimento do PIB brasileiro neste ano pode ficar abaixo de 3% caso a equipe econômica continue a tomar as medidas necessárias para frear a inflação.
Como nenhum dos dois cenários é benéfico para o mercado acionário, os investidores decidiram nas últimas semanas vender as ações que embutiam em suas cotações expectativas de crescimento condizentes apenas com economias a todo o vapor. O Ibovespa, principal índice da bolsa paulista, fechou a semana passada pouco acima dos 65.000 pontos – quase 10% abaixo das máximas atingidas neste ano. A correção foi liderada pelas ações ligadas ao mercado interno, como varejistas, bancos, construção, shoppings e saúde.
Para entender a virada da bolsa, EXAME.com conversou com Luiz Fernando Figueiredo, que entende tanto de inflação (já foi diretor de Política Monetária do Banco Central) quanto de investimentos (é o sócio responsável pela gestão de recursos na Mauá Sekular Investimentos, que administra 800 milhões de reais). Para ele, apesar da queda recente desses setores, os preços mais interessantes da Bovespa estariam nos papéis de commodities e bancos. Como a inflação deve demorar a arrefecer, no entanto, ele prefere tomar muito pouco risco na bolsa neste momento. Somente com o Ibovespa em 62.000 pontos ou menos é que seria possível comprar ações com convicção de que o negócio será rentável. Leia a seguir os principais trechos da entrevista:
EXAME.com – É interessante investir na bolsa neste momento?
Figueiredo – A Bovespa já caiu bastante neste ano enquanto as bolsas americanas subiram. Já estamos chegando em um nível em que a bolsa brasileira passa a ser interessante de novo. Com 62.000 pontos, o Ibovespa estaria sendo negociado a um múltiplo equivalente a 9 vezes o lucro das empresas incluídas no índice. Isso seria um sinal de que a bolsa já começa a ficar mais para barata do que para cara. Não estou dizendo que vai chegar a 62.000 pontos, mas que me parece interessante comprar nesse nível. O lucro médio das empresas da bolsa cresceu 27% em 2010. Neste ano, vai ser 17%, o que ainda é muito bom.
EXAME.com – O que levou à recente correção na bolsa?
Figueiredo – A bolsa tem sofrido em primeiro lugar porque estamos em um ambiente de aperto monetário e de um PIB que será menos robusto que os 7,5% do ano passado. A Bovespa estava com um múltiplo muito próximo ao de empresas de países desenvolvidos e outros emergentes. Caiu porque estava mais valorizada do que deveria.
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